Análise do filme: Desejos – Alguém foi seduzido
Jucimara Gonçalves Bernardo
Atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica, com objetivos bem definidos para encontrar respostas a questões propostas com vistas à solução de problemas.
Os testes psicométricos baseiam-se na teoria da medida, e fazem uso de números para descrever os fenômenos psicológicos enquanto os testes impressionistas são fundamentados na descrição lingüística, que caracterizam o sujeito.
Os testes psicológicos são utilizados para: classificação (psicotécnico), autoconhecimento, intervenção psicoterápica e psicodiagnóstica, avaliação de programa e pesquisa científica.
A avaliação profissional tem caráter científico e visa avaliar o comportamento das pessoas e com base nessa avaliação são tomadas decisões que afetam profundamente a vida dessas pessoas.
O processo de avaliação consiste em identificar as necessidades, integrar as descrições, escores, história do indivíduo e classificá-la, inferir hipóteses e intervenção.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar o filme: Desejos – Alguém foi seduzido, a luz de alguns conceitos estudados na disciplina de Exames Psicológico I.
O filme relata a história de Issac Barr (Richard Gere) um famoso psicanalista que deixa a ética de lado e se envolve com Heather (Kim Basinger), irmã de sua paciente. Para piorar, Heather ainda é casada com um perigoso gangster, que ela odeia.
De acordo com o código de ética profissional do psicólogo:
ü É seu dever trabalhar visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e da coletividade, contribuir para a eliminação de quaisquer formas de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
ü Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente.
ü Guardar sigilo por parte do profissional psicólogo, salvo em caso de pedidos da justiça. Sendo então o mesmo obrigado a dar somente as informações pedidas e nada mais.
Dr. Barr (analista) afirma que o réu precisava de um programa estruturado de psicoterapia intensiva arcada pelo Estado, e se colocou a disposição de o trata-lo gratuitamente, sob a seguinte justificativa: “sua cura nos dá mais segurança. Não é por isso que estamos aqui!”
No que diz respeito a ética na avaliação psicológica, existem seis padrões básicos norteadores que devem ser seguidos pelo profissional de psicologia:
1. Competência: exercer sua função da melhor forma possível, estar habilitado para tal e reconhecer seus limites. Dessa forma é ilusão achar que todo psicólogo deve dar de conta de tudo. Pelo contrário é preciso se especializar e fazer muito bem o que é de sua especialidade.
2. Integridade: respeitar, ser honesto e justo com o paciente. Quando o psicólogo por questões pessoais não consegue dar conta da demanda, o mais correto é encaminhar para outro profissional.
3. Princípios de responsabilidade científica e profissional: utilizar técnicas de acordo com a demanda do paciente.
4. Respeito à dignidade das pessoas: guardar sigilo das informações recebidas e etc.
5. Preocupação com o bem-estar alheio: consciência da relação de poder e evitar atitudes que envolvam engano ou exploração.
6. Responsabilidade social: participar na formação de políticas e leis que possam beneficiar a sociedade, sem envolver necessariamente, vantagens profissionais.
Princípios estes, que não foram obedecidos pelo analista, pois mesmo após se interessar pela irmã da paciente, continuou o processo terapêutico com Diana ao invés de reconhecer seus limites e ser honesto com a paciente, demonstrando assim não ter competência e integridade.
Existirá momentos em que o profissional se identificará com seu paciente (projeção) e momentaneamente poderá não perceber que está fazendo isso, correndo o risco então de querer mudar o percurso construído pelo paciente, achando que o problema está nele, quando na verdade o problema está no psicólogo que está escutando.
O psicólogo é um ser humano como qualquer outra pessoa e possui limitações, portanto, poderá haver momentos em que o profissional não consiga lidar com algumas situações. E nesse caso, o melhor a ser feito é encaminhar o cliente para outro profissional e trabalhar suas questões na psicoterapia pessoal.
É preciso se aproximar e se distanciar do cliente, movimento este, que muitas vezes é doloroso porque nos encontramos na história do cliente. Porém, esse processo é indispensável para a compreensão do paciente.
Diante do exposto acima, desvela-se a importância da supervisão: processo no qual uma profissional supervisora pontua os pontos cegos existentes na relação do psicólogo e paciente, as quais o psicólogo deve levar para sua psicoterapia pessoal.
É importante salientar que é dever do psicólogo zelar pela sua posição de psicoterapeuta numa relação clínica, sendo então o detentor das regras e deixar claro para o seu paciente os limites dessa relação, no mesmo instante em que os acordos estiverem sendo estabelecidos entre ambos.
Critério este, que foi nitidamente violado nas cenas do filme, pois o analista após ter escutado sua paciente, pede para que sua irmã ligue para ele, dando a entender que seria para esclarecer a existência real de uma arma dada por Heather. Porém, levanta-se a hipótese de que inconscientemente a libido o impulsionara a arranjar uma forma para ver Heather (objeto de seu desejo).
O ato se concretizou, quando Heather apareceu na casa dele, e mesmo assim ele a atendeu com o propósito de questioná-la sobre a existência da arma, neste momento o analista perdeu totalmente o seu lugar de analista e se envolve com a irmã de Diana e assim com a vida da paciente.
Quanto ao plano da motivação, paciente e terapeuta assumem inconscientemente, papéis de acordo com seus desejos, sentimentos e fantasias. Aqui se destaca a transferência e a contratransferência.
Destarte, o autor do filme alerta-nos sobre o perigo da motivação, principalmente quando mostra a cena em que o Dr. Barr (analista) se envolve com a irmã da paciente, mesmo sabendo do erro.
Referências bibliográficas:
CUNHA, Jurema Alcides. Org. PSICODIAGNÓSTICO – V. ed.5ª. ED. Artmed. São Paulo.
PASQUALI, Luiz. TÉCNICA DE EXAME PSICOLÓGICO – TEP, Manual. Vol.1. Fundamentos das técnicas psicológicas.