A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO AMBIENTE HOSPITALAR
O tratamento do câncer infantil demanda um tempo considerável de hospitalização, no qual a criança é submetida a procedimentos invasivos e dolorosos, como é o caso da quimioterapia e seus efeitos colaterais.
Ao pensar em ações que possam minimizar tal sofrimento, Chiattone (2003) ressalta que o brincar é um rico instrumento preventivo, diagnóstico, prognóstico e terapêutico para as crianças na situação de adoecimento e iminência da morte. Pois é através do brincar que a criança consegue formular e assimilar sua experiência, bem como facilita a internalização, amadurecimento e elaboração do processo de adoecimento.
A criança acometida por câncer, sofre muito mais com a restrição do seu existir, do que mesmo com a própria doença. Porém, é graças ao seu desejo constante de des-cobrir (presente durante todo o seu desenvolvimento), que a restrição poderá passar a ocupar um espaço menor. Destarte, é quando seu foco de atenção estiver mais voltado para a des-coberta das coisas novas, que a limitação imposta pela doença e pelo tratamento passará momentaneamente a não mais impedi-la de continuar sua trajetória.
Neste sentido, o brincar pode ser considerado um mediador entre a criança
e o psicólogo, que se utilizará de tal método para fazer com a criança possa
explorar e descobrir novas maneiras de vir-a-ser na situação de doença. Bem
como, fortalecer a auto-estima, o autoconceito e favorecer o seu equilíbrio
psíquico da criança. Segundo Chiattone (2003, s/p):
O objetivo é ajudar a criança a tomar consciência de
si mesma, de sua existência no mundo e de sua situação de doença e iminência de
morte, reconstruindo seu senso de eu, fortalecendo suas funções de contato e
renovando o contato com seus sentidos e sentimentos. Ao fazer isso, pode-se
redirigir a criança para a percepção mais saudável das funções de contato que
lhe restam e em direção a comportamentos mais satisfatórios.
Existem diversas técnicas específicas que podem ser utilizadas e
incluídas nas atividades do ambiente hospitalar e que ajudam a criança a
expressar seus sentimentos. Dentre elas: desenho livre,
pintura livre a dedo, pintura de modelos prontos, desenho de polaridades,
manuais sobre a doença e hospitalização, recortes e colagens, modelagem,
desafios, histórias coletivas, completar sentenças, fantoches e teatros de
fantoches, dramatização, árvore da vida etc (CHIATTONE, 2003).
Assim a tarefa do profissional de saúde mental no atendimento a criança
terminal consiste em apontar caminhos, oferecer condições de forma direta, sem ser
invasivo, sendo leve e delicado sem ser passivo, enfim aceitando a criança com
respeito e consideração a sua forma de ser e existir.
Frente a isso, Lione (2001, s/p) ressalta que:
Para a criança
em geral e, em especial, para crianças com câncer, é importante que o adulto
que delas cuida antecipe situações ou significados para além do imediato,
reconhecendo suas necessidades e, ao mesmo tempo, dando-lhes apoio e
encorajando-as a enfrentar o que está por vir. Na sua proximidade, o adulto
pode antecipar o que vai acontecer no futuro, oferecendo para a criança algum
tipo de “confiança” de que ela poderá se lançar ao desconhecido.
As necessidades e as solicitações da criança podem ser facilmente percebidas
pelo olhar cuidadoso do adulto que está próximo da criança no seu dia-a-dia.
A confiança surge através do relacionamento cuidadoso, humanizado e respeitoso. Se para a criança a presença do adulto que é marcada
pelo apoio e confiança é importante, para o adulto essa relação também é muito
valiosa. Pois à medida que o adulto cuida da criança, ele está cuidando também
da sua aflição e preocupação em relação à criança, ou seja, ele está cuidando também
de sim mesmo.
Existe na verdade uma relação de ser-com-o-outro, onde o cuidado que é
oferecido pelo adulto é recompensado pela confiança que a criança deposita no
mesmo e que o presenteia com mais força para continuar a superar as
adversidades.
REFERÊNCIAS
LIONE, Fernanda Rizzo di. A criança existindo com câncer. Revista da Associação
Brasileira de Daseinsanalyse. Número 10, 2001, São Paulo.
CHIATTONE, H.B.C. A criança e a morte. A psicologia entrou no hospital. 2ªed. São Paulo: Pioneira, 1999.