segunda-feira, 29 de julho de 2013

O IMPACTO DO BULLYING NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM


 Jucimara Gonçalves Bernardo



A instituição escola deve ser por excelência um ambiente seguro e saudável, onde crianças e adolescentes possam desenvolver, ao máximo, os seus potenciais intelectuais e sociais.
De acordo com Neto (2005), admitir que estudantes sofram violências é colaborar para o desencadeamento e aumento de danos físicos e/ou psicológicos, assim como permitir que várias pessoas testemunhem tais fatos e se calem para que não sejam também agredidos e acabem por achá-los banais ou, pior ainda, que diante da omissão e tolerância dos adultos, adotem comportamentos agressivos.

 Segundo Fante (2006, p. n.p) o termo bullying é definido universalmente como sendo:

“Um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento”. Insultos, intimidações, apelidos cruéis e constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de ataques virtuais, através de celulares e internet, (cyberbullying), são alguns exemplos de Bullying.

 De acordo com Fante (2006), vários estudiosos sobre o assunto identificaram e classificaram os diversos tipos de papéis sociais desempenhados pelos seus protagonistas, por:

§     Vítima típica: aquele que serve de bode expiatório para um grupo;
§   Vítima provocadora: aquele que provoca determinadas reações contra as quais não possui habilidades para lidar;
§     Vítima agressora: aquele que reproduz os maus-tratos sofridos;
§     Agressor: aquele que hostiliza e maltrata;
§     Espectador: aquele que presencia os maus-tratos, porém, não o sofre diretamente e nem o pratica, mas que se expõe e reage inconscientemente à sua estimulação psicossocial.

Segundo Neto (2005), as pesquisas sobre bullying só ganharam destaque a partir dos anos 1990, e estudos indicam que a prevalência de estudantes vitimizados varia de 8 a 46%, e de agressores, de 5 a 30%3,19.
Fante (2006) atribui às causas de tal comportamento a carência afetiva, ausência de limites, desagregação familiar, modo de afirmação dos pais sobre os filhos, através de castigos físicos e explosões emocionais violentas, exposição constante às diversas cenas de violência exibidos na mídia, etc.
As conseqüências desse comportamento para as vítimas podem ser de ordens físicas, sociais e emocionais de curto e longo prazo, assim como o comprometimento intenso do desenvolvimento psíquico da criança, desencadeando transtornos muitas vezes irreparáveis.
Dependendo da gravidade, Fante (2006), salienta que na aprendizagem as conseqüências imediatas podem ser notadas através de déficit de concentração e aprendizagem, queda do rendimento escolar, desinteresse pelos estudos e abstinência escolar. Ao passo que a longo prazo, pode-se manifestar fobia escolar e social, dificuldade de socialização e de relacionamentos. Para os agressores, os prejuízos mais evidentes se manifestam através do distanciamento dos objetivos escolares, a dificuldade de adaptação às regras escolares e posteriormente, às regras sociais, a valorização da violência como forma de conseguir seus intentos. Posteriormente a presença de tendências ao envolvimento em condutas delituosas, dificuldades de relacionamento na constituição familiar, no ambiente de trabalho e de convivência social se tornaram cada vez mais constante. 
De acordo com Neto (2005), os principais sinais e sintomas possíveis de serem observados em alunos alvos de bullying são:


§  Enurese noturna
§  Alterações do sono
§  Cefaléia
§  Dor epigástrica
§  Desmaios
§  Vômitos
§  Dores em extremidades
§  Paralisias
§  Hiperventilação
§  Queixas visuais
§  Anorexia
§  Bulimia
§  Isolamento
§  Tentativas de suicídio
§  Irritabilidade
§  Agressividade
§  Ansiedade
§  Perda de memória
§   Histeria
§   Depressão
§   Pânico
§   Relatos de medo
§   Resistência em ir à escola
§  Demonstrações de tristeza
§  Insegurança por estar na escola
§  Mau rendimento escolar
§  Atos deliberados de auto-agressão
§  Síndrome do intestino irritável




REFERÊNCIAS:

   
FANTE, Cleo. FENÔMENO BULLYING: COMO PREVENIR A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS E EDUCAR PARA A PAZ. IV SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DO CEARÁ – O desafio da leitura e da escritas, Relações na escola: Valores e Disciplina. ANAIS, 2006.
  
NETO, AA. Lopes. Bullying – comportamento agressivo entre estudantes. J Pediatr (Rio J). 2005; 81(5 Supl):S164-S172.




quinta-feira, 25 de julho de 2013

UM GOLPE DO DESTINO: TEXTO SENTIDO




Jucimara Gonçalves Bernardo


INTRODUÇÃO


Iniciemos então, este texto refletindo primeiramente e não por acaso, acerca dos seguintes questionamentos: o que é a vida? O que é viver? O que é existir? Viver difere de existir ou ambas são a mesma coisa? Qual o real sentido de nossa existência? Quando e como morreremos? O que é a morte? É difícil responder não é? Existem inúmeras explicações a serem dadas, porém é necessário esclarecer que este não será foco deste trabalho.
Todos esses questionamentos têm por objetivo neste primeiro momento, deixar claro que é por esta difícil e delicada condição de estar no mundo (vida, bem mais precioso que possa existir), que o consulente busca o profissional da saúde nas clínicas e hospitais, clamando e pedindo que o ajude a preservá-la, salvar ou simplesmente zelar por sua vida.
E assim vos pergunto novamente: como este profissional tem cuidado e protegido esta vida? Estão cuidado da doença ou do ser humano que sofre? Estão de fato percebendo o quão frágil se encontra este consulente que beira a eminência de sua morte? Estão desenvolvendo uma relação consulente/profissional saudável e um tratamento humanizado?
É em torno desta temática e a partir do filme: Um golpe do destino, que procurarei discutir a respeito de algumas problemáticas ocorridas no âmbito dos serviços de saúde.

O TRATAMENTO HUMANIZADO

Ao ser internado o consulente passa por um processo que podemos chamar de despersonalização, ou seja, passa a receber tratamentos impessoais, como por exemplo, deixa de ser chamado pelo nome e passa a ser chamado por um número (“o paciente nº. 37”), sua vaidade, seus gostos, desejos, necessidades emocionais e psíquicas passam a ser grosseiramente reprimidas.
Na conduta de alguns médicos, assim como mostra o filme: Um golpe do destino é nítido perceber que: a princípio a visão de homem que se tem é inteiramente dicotômica, o foco principal é a doença e não o ser humano que sofre, alguns se sentem onipotentes e tratam seus pacientes como máquinas que precisam de um concerto mecânico. Os aspectos psíquicos e emocionais, assim como a estrutura de personalidade e a história de vida do paciente são totalmente desprezadas diante da oferta terapêutica aplicada. Enfim são cenas que na realidade desvelam a desumana forma de atendimento e procedimentos invasivos desempenhados por estes profissionais. Mas felizmente, reconheço que não são todos os profissionais da saúde que são assim, existe profissionais qualificados e humanizados em muitas instituições de saúde!
De acordo com Carvalho, Santana & Santana (2009), a temática humanização e qualidade dos serviços começou a ser discutida no ano de 2000, a partir da XI Conferência Nacional de Saúde que teve como tema: Efetivando o SUS: Acesso, Qualidade e Humanização na Atenção à saúde com Controle Social.
Segundo o Ministério da Saúde, humanizar não significa apenas reorganizar os espaços sanitários, visa, sobretudo, reorganizar os processos de trabalho, formar e qualificar trabalhadores, garantir os direitos e a cidadania dos usuários por meio do controle e da participação popular.  
Deslandes (2004) apud Carvalho, Santana & Santana (2009), desvela quatro eixos referentes à Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar:

1) Humanização como oposição à violência, podendo esta ser física (maus-tratos) ou psicológica (a não compreensão das demandas e expectativas do paciente);
2) Humanização como capacidade de oferecer um atendimento de qualidade (exemplificada pela tecnologia leve, a qual diz respeito aos modos relacionais de agir na produção dos atos de saúde, ou seja, a produção de vínculos, acolhimentos e autonomização ao usuário);
3) Humanização como melhoria das condições de trabalho do cuidador;
4) Humanização como ampliação do processo comunicacional, ou seja, a presença de mecanismos que permitam a livre expressão dos usuários: a ouvidoria.

Desta forma, percebe-se que, em se tratando do ambiente hospitalar, humanizar significa compreender também os medos, angústias e incertezas do paciente, dando-lhes apoio e atenção permanente.
Outra importante missão do profissional de saúde, é estabelecer e assumir uma postura ética de respeito ao individuo, tratá-lo com dignidade, sob a hipótese de que será somente assim, que o consulente passará a apropriar-se do seu adoecer, a responsabilizar-se por suas escolhas e por buscar caminhos que lhes traga o restabelecimento e equilíbrio organísmico.
Perls (2002), ao referir-se as inúmeras formas e possibilidades de apropriação da vida assumidas pelo homem, convoca-nos a refletir descrevendo o seguinte trecho:

É essencial que o homem aprenda a “sensação de si mesmo”, restaurando todos os impulsos e as necessidades, todos os prazeres e as dores, todas as emoções e sensações que fazem a vida valer a pena ser vivida, que se tornaram fundo ou foram reprimidas em nome do seu ideal dourado. Deve aprender a fazer outros contatos na vida além de suas relações comerciais (p.152).

É pensando em mediar este contato do paciente consigo mesmo e com os profissionais da saúde, que o psicólogo hospitalar (profissional capacitado para analisar as relações inter-pessoais), deve esforçar-se para: focar seu trabalho no paciente, resgatar sua essência de vida interrompida pela doença e a internação, acolher a demanda do paciente e familiar, considerar o ser humano em sua totalidade e integralidade, observar e ouvir com paciência e empatia a linguagem verbal e não-verbal dos pacientes, observar todos os aspectos relacionados ao adoecer, aumentar a integração da equipe com o usuário, favorecer apoio à equipe de saúde e familiares, buscar uma visão ampla do que é e como está o paciente frente ao processo de doença e por fim resgatar a visão de individuo como um todo.

CONCLUSÃO

Concluímos então, que na atuação do psicólogo hospitalar não basta apenas ter um vasto conhecimento cientifico é preciso saber como utilizá-lo, lembrando ainda que, se não estivermos preparados para aprender com o paciente, nosso saber de nada adiantará. Iludisse o acadêmico, achando que a simples formação lhe garantirá o sucesso do seu exercício (afirma Angerami Camon), e o filme: Um golpe do destino, deixa bem claro a insuficiência do modelo biomédico. Ressalta-se aqui, a importância de se consolidar práticas empáticas e humanizadas no acolhimento ao paciente enfermo, independente de qual seja o projeto político de saúde em que é assistido.


REFERÊNCIAS:


PERLS, Frederick S. Egos, fome e agressão: uma revisão da teoria e do método de Freud. São Paulo. Ed. Summus, 2002.

CARVALHO, Denis Barros de, SANTANA, Janaína Macêdo & SANTANA, Vera Macêdo de. Humanização e Controle Social: O Psicólogo como Ouvidor Hospitalar. Revista PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2009, 29 (1), 172-183.

MINISTÉRIO DA SAÚDE – SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. ABC do SUS: Doutrinas e Princípios, Brasília/ DF, 1990.

CAMOM, Valdemar Augusto Angerami (Org). E a psicologia entrou no hospital. 1ª ed. São Paulo. ED. Pioneira Thomson Learning, 2003.




sexta-feira, 19 de julho de 2013




O ATENDIMENTO CLÍNICO COM CRIANÇAS


Jucimara Gonçalves Bernardo


A Gestalt-terapia é uma modalidade terapêutica, que dentre outros objetivos, busca devolver ao homem a capacidade de se autogerir e buscar novas diretrizes para sua vida (MACHADO; LIMA; FERREIRA, 2011).
 Neste ínterim,  em se tratando do atendimento clínico infantil, o objetivo da terapia permanece o mesmo,  mas exige do terapeuta uma forma singular e diferenciada de fazer o atendimento.  Para isso, dentro das diversas ramificações da Psicologia existe a ludoterapia.


O QUE É LUDOTERAPIA?


A ludoterapia é uma "[...] terapia destinada a crianças e que usa o brincar como forma de ajudar os mais pequenos a resolver situações ou dificuldades" sejam elas de origem emocional, cognitiva, social, psicomotora, etc. (HOMEM, 2009, p. 21).
 De acordo com Winnicott (1975), ao brincar, a criança avança rumo ao seu desígnio mais nobre, que é o de evoluir psiquicamente, construir e estruturar a sua personalidade, seu pensamento e integrar-se socialmente. É pois, no brincar que se desenvolvem os processos psíquicos que preparam o caminho da transição para um novo e mais elevado nível de desenvolvimento, a saber, a idade adulta.


  COMO FUNCIONA?


A sala de ludoterapia constitui-se como sendo um espaço provedor da criação e recriação, principalmente por permitir ao consulente, de forma segura "enfrentar os seus sentimentos de frustração, agressividade, medo, insegurança, confusão, entre tantos outros, aprendendo a controlá-los ou a abandoná-los, ao mesmo tempo que vai percebendo que é uma pessoa autônoma e com direito a sentir todas essas emoções" (HOMEM, 2009, p. 21-22).
A sessão de atendimento tem duração de 50 minutos.


  QUANDO PROCURAR ?


São vários os motivos que levam os pais a buscarem atendimento psicológico para seus filhos. Dentre os sintomas e queixas mais comuns estão:

*            Dificuldades de aprendizagem;
*            Enurese ou ecoprese diurna ou noturna;
*            Pesadelos, dificuldades para dormir;
*            Distúrbios alimentares, dentre outros.
*            Agressividade em casa e na escola;
*            Hiperatividade, atrasos no desenvolvimento motor (atrasos para falar, andar, etc.)
  

 COMO DEVO FAZER?


Para iniciar um processo de ludoterapia basta ligar para o psicólogo e marcar uma entrevista inicial, a qual, em nossos consultórios, é realizada com os pais e/ou responsável pela criança. Nessa entrevista você terá a chance de tirar suas dúvidas pessoalmente. O psicólogo fará uma avaliação acerca da necessidade ou não da criança fazer ludoterapia.





domingo, 7 de julho de 2013

ESTAÇÕES DE UM "SER" TERAPEUTA






Jucimara Gonçalves Bernardo

Há momentos em que sou inverno: sinto-me fria, frágil e em silêncio.
Há outros em que sou outono: perco-me do caule, assim como as folhas, e sigo o fluxo e a direção do vento sem saber aonde vou parar. E quando repouso em terras firmes, aprecio a paisagem, me encanto com cada encontro, me afeto e aprendo a acolher o estranho.
Há momentos em que sou primavera: perfumo, presenteio e afeto.
Em outros sou verão: ilumino com a luz do meu olhar e presença, mas as vezes me empolgo e ilumino demais e cuidadosamente queimo.
Sou finda, inacabada e limitada.
Desvio e sou estranhamente desviada.
Sou sombra, acolhimento, abrigo e desabrigo.
Tenho as marcas de quem já encontrei e sou lembrança naqueles que marcas eu deixei.