segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

SER: verbo ou substantivo?



Jucimara Gonçalves Bernardo


            Antes de me lançar na ontologia de Heidegger, procurarei revisar rapidamente e não por acaso o significado das palavras substantivo e verbo. Segundo o dicionário Aurélio:Substantivo é a palavra com que se nomeia um ser ou um objeto.Verbo é a palavra que designa ação, estado, qualidade ou existência.Partindo dessa perspectiva, Heidegger parece nos chamar a atenção, para o originário sentido da palavra “ser” como verbo, ou seja, o ser em ação, capaz de construir a sua própria existência, porém dotada de um fim e assim um ser finito, um ser-para-a-morte. Daí a expressão: eu sou um eterno vir-a-ser, que o verbo ser nos convoca.
Nesta encruzilhada de completude e incompletude, a angústia antes vista como um movimento afetivo sem causa, sem objeto, ilusório, agora ganha sentido: a angústia é a prova da própria existência, ou seja, ela reside porque o ser existe, e não tem domínio total da sua própria vida; a única certeza que se tem é que um dia morrerá e nem mesmo sabe como e quando.
Dessa forma a angústia se deve ao nada, ao não ser substantivo, e assim ultrapassando a visão anterior, o angustiar-se é a própria afirmação de existência.
Quem de nós nunca se perguntou sobre o que é, e qual será nosso destino? A sua real causa e seus fins? Eis um questionamento sem fim, não é? Assim como não se esgota a origem do sofrimento ao qual chamamos de angústia.
Poderíamos, assim, pensar na angústia como uma espécie de chamado, uma real convocação do eu substantivo para o eu verbo, visto que a angústia se encontra tão próxima de nós.
Mesmo sem saber explicá-la, a angústia não deixa de existir e nem tão pouco deixamos de senti-la, é assim que Heidegger nos convoca a entender e compreender o movimento constante da nossa existência. Portanto, eis o sentimento que nos impulsiona a agir, a viver, a prosseguir nessa enigmática caminhada da vida, a buscar um abrigo, uma razão, enfim, uma existência como substantivo.


Observação: texto já publicado em 04/08/2010 no site: http://dialogoscariri.blogspot.com.br/2010/08/ser-verbo-ou-substantivo.html, pela referida autora.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O PAPEL DA PSICOTERAPIA



Jucimara Gonçalves Bernardo



[...] toda arte é a combinação de um fato com o sentimento a respeito dele. O terapeuta também, como o artista, age a partir de seus próprios sentimentos, como o artista, usando seu próprio estado psicológico como um instrumento da terapia (Erving e Mirian Poster, 2001, p.35).



Sendo a Psicologia uma ciência que estuda os processos mentais, o comportamento humano e as suas interações com o ambiente físico e social, ela busca auxiliar pessoas que estão em situação de sofrimento psíquico (com dificuldades de relacionamento, com conflitos emocionais, depressão, alterações mentais mais graves, etc.), e/ ou apenas querem se conhecer melhor. Para isso, dentro das diversas ramificações da Psicologia existe a psicoterapia.
A psicoterapia, ou atendimento psicológico clínico, é uma atividade exercida apenas por psicólogos e/ou psiquiatras.
De forma simples, a psicoterapia pode ser entendida como um processo em que duas ou mais pessoas - terapeuta e paciente(s) - interagem através do diálogo, utilizando recursos variados e com o objetivo de proporcionar crescimento pessoal, aumentar a criatividade e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Na psicoterapia individual, terapeuta e paciente buscam juntos aprender sobre como este funciona, a partir do relato de suas experiências de vida e também do que pode ser observado no consultório.
O paciente é estimulado a se desenvolver e a aprender sobre ele mesmo, através dos seus sintomas e das trocas estabelecidas neste processo.
Neste âmbito, a psicoterapia disponibiliza instrumentos (subjetivos) que o paciente irá incorporar ao seu funcionamento psíquico, ou seja, conseguir se perceber, entrar em contato com ele mesmo e resolver conflitos, mesmo sem a presença do terapeuta, já que a meta final da psicoterapia é conduzir o paciente à autonomia e à auto-responsabilidade.
A sala de psicoterapia constitui-se como sendo um espaço provedor da criação e recriação, principalmente por permitir ao paciente, de forma segura "enfrentar os seus sentimentos de frustração, agressividade, medo, insegurança, confusão, entre tantos outros, aprendendo a controlá-los ou a abandoná-los, ao mesmo tempo que vai percebendo que é uma pessoa autônoma e com direito a sentir todas essas emoções" (HOMEM, 2009, p. 21-22).
A psicoterapia pode ser buscada quando de alguma forma, você não estiver satisfeito com o andamento de sua vida, estiver vivenciando algum sofrimento que não consegue superá-lo, e/ou buscando o autoconhecimento. É indicada para todas as fases do desenvolvimento humano (infância, adolescência, adultez e terceira idade).
É um mito, acreditar que o psicólogo só cuida de pacientes com transtornos mentais. Pelo contrário, as pessoas costumam buscar a ajuda de um profissional de psicologia porque querem evitar a estagnação da vida!
Outro mito, é acreditar que o psicólogo vai dar conselhos ao paciente, e associá-lo a figura de um amigo. Esclareço aqui, que diferente do amigo, a função do psicoterapeuta (que estudou e se capacitou durante anos para exercer a profissão), é a de ser um facilitador, ou seja, ajudar o paciente a encontrar nele mesmo, as ferramentas necessárias para reconfigurar a sua vida, alcançar autonomia e fazer novas escolhas. 


REFERENCIAS


 POSTER, E. e M. Gestalt-terapia integrada. São Paulo: Editora Summus, 2001. 

HOMEM, C. A ludoterapia e a importância do brincar: Reflexões de uma educadora de infância. Cadernos de Educação de Infância. n.º 88 Dez. 2009. Disponível em: http://www.apei.pt/upload/ficheiros/edicoes/CEI_88_Artigo2.pdf. Acesso em: 01 ABR. 2012.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO ÉTICO



Jucimara Gonçalves Bernardo


O Curso de Graduação em Psicologia tem duração de cinco anos, e sua missão é formar profissionais com sustentação científica, postura ética, crítica e reflexiva, qualificadas para o exercício técnico e profissional em Psicologia.
Durante a formação, o aluno é estimulado a desenvolver competências e habilidades nas diferentes abordagens (orientações teórico- metodológicas): Psicodrama, Psicanálise, Fenomenologia-existencial, Gestalt-terapia, Análise do comportamento,  etc. 
Busca capacitar o aluno à agregar criticamente tais teorias (metodologias), às diversas práticas desenvolvidas ao longo das disciplinas curriculares e estágios supervisionados. Bem como, agenciar interlocuções com os diversos campos de conhecimento, que possibilitam a apreensão da complexidade e subjetividade dos fenômenos psicológicos (medicina, religião, educação, sociologia, etc.).
É um mito acreditar que existe uma abordagem mais eficaz e/ou melhor que a outra! O que existe é, uma diversidade de olhares e formas singulares de se olhar teórica e cientificamente, para um mesmo fenômeno: o ser humano e sua relação organismo/ambiente.
Durante a graduação, é importante que o aluno invista no seu processo pessoal e emocional, ou seja, que "faça psicoterapia". Pois é somente, se conhecendo e entrando em contato com os seus próprios conflitos de modo à não inibi-los, que o futuro psicólogo conseguirá olhar e acolher a vulnerabilidade do paciente, e intervir de modo criativo e com "responsabilidade".
Após a formação, é importante que o psicólogo continue se reciclando e aprimorando-se sempre. Seja a partir de cursos de: especialização, mestrado, doutorado, participando de eventos da área e/ou multidisciplinar, fazendo supervisão com profissionais capacitados e estudando sempre.

É necessário acrescentar, que o psicólogo só estará apto a exercer legalmente sua profissão, após concluir  a graduação e registrar-se formalmente junto ao Conselho Regional de Psicologia (CRP) de seu estado. No Cariri, somos regidos e atuados pelos CRP-11. 

No que diz respeito à ética profissional do psicólogo, podemos destacar as seguintes atribuições:
·           É seu dever trabalhar visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e da coletividade, contribuir para a eliminação de quaisquer formas de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
·           Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente.
·           Guardar sigilo por parte do profissional psicólogo, salvo em caso de pedidos da justiça. Sendo então o mesmo obrigado a dar somente as informações pedidas e nada mais.

No que diz respeito a ética na avaliação psicológica, existem seis padrões básicos norteadores que devem ser seguidos pelo profissional de psicologia:

·           Competência: exercer sua função da melhor forma possível, estar habilitado para tal e reconhecer seus limites. Dessa forma é ilusão achar que todo psicólogo deve dar de conta de tudo. Pelo contrário, é preciso se especializar e fazer muito bem o que é de sua especialidade.
·           Integridade: respeitar, ser honesto e justo com o paciente. Quando o psicólogo por questões pessoais não consegue dar conta da demanda, o mais correto é encaminhar para outro profissional.
·           Princípios de responsabilidade científica e profissional: utilizar técnicas de acordo com a demanda do paciente.
·           Respeito à dignidade das pessoas: guardar sigilo das informações recebidas.
·           Preocupação com o bem-estar alheio: consciência da relação de poder e evitar atitudes que envolvam engano ou exploração.
·           Responsabilidade social: participar na formação de políticas e leis que possam beneficiar a sociedade, sem envolver necessariamente, vantagens profissionais.

REFERENCIAS


BOCK, A. M. B. Formação do Psicólogo: Um debate a partir do significado do fenômeno psicológico Rev. Psicologia Ciência e Profissão. v.17, n.2, 1997. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/pcp/v17n2/06.pdf. Acesso em: 05 ABR. 2012.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Senhoras e senhores gestores da Saúde, Como a Psicologia pode contribuir para o avanço do SUS. Disponível em: http://www.pol.org.br/pol/export/sites/default/pol/publicacoes/publicacoesDocumentos/conasems_crepop_v4.pdf. Acesso em: 25 FEV. 2012. Brasília-DF, 2011

CUNHA, Jurema Alcides. Org. PSICODIAGNÓSTICO – V. ed.5ª. ED. Artmed. São Paulo.

PASQUALI, Luiz. TÉCNICA DE EXAME PSICOLÓGICO – TEP, Manual. Vol.1. Fundamentos das técnicas psicológicas.