sábado, 3 de outubro de 2015





Por que você tem medo de ser feliz?


Por: Jucimara Gonçalves Bernardo


Você tem medo de ser feliz? Deve estar estranhando essa pergunta não é? Pode ficar tranqüilo, você está lendo e compreendendo corretamente. Talvez esteja sendo afetado, porque pode estar condicionado a se perguntar ou afirmar sempre, da seguinte forma: eu tenho medo de “não” ser feliz!
Mas aí vos pergunto, por que tendes sempre a se focar no pessimismo? A ver sempre o lado negativo das situações e experiências vividas? A acreditar que tudo na sua vida tende a dar primeiro errado? E que se der certo, será porque você tem muita sorte, ou porque existe uma pessoa que te salvou. Ou ainda, porque existe uma força sobrenatural que fez tudo por você, inclusive o impossível! E que o fato de alguma coisa ter dado certo na sua vida, não tem nada a ver com a sua fé, determinação, tentativas e autoconfiança.
Por que a possibilidade de algo negativo lhe acontecer, é maior que a possibilidade de algo positivo lhe acontecer? Quem te disse que é, e será sempre assim? Quem determinou esta lógica matemática? De onde vem essa voz que ecoa diariamente em sua mente, e te sabota todas as possibilidades de algo bom lhe acontecer?
Agora pare, respire fundo e procure na sua história de vida! Mergulhe na linha do tempo! Tenta, tenho certeza que pode se surpreender!
Será que foi sua mãe, quando estava com raiva por um motivo pessoal, que te disse coisas aparentemente sem sentido ou relacionadas contigo. E você acabou introjetando a informação como um sentimento de culpa? Será que foi seu pai, quando não conseguindo lidar com os próprios conflitos e feridas, os projetou em você e você absorveu o conteúdo como sendo uma verdade absoluta sobre quem é você? Ou será que foi um professor, cansado e stressado com o seu labor, que humanamente te direcionou um afeto negativo, e você o tatuou em seu inconsciente como sendo uma mensagem de descrença, que aniquila diariamente toda sua motivação? Enfim, com quem você aprendeu a ser assim, tão pessimista? Seus pais também são assim?
São muitos os questionamentos não é? Mas te convido a mergulhar ainda mais nesse oceano chamado EU interior.
Como se formaram seus conceitos, características, qualidades, defeitos, jeito de andar, falar, se vestir, comer, o que gostar de fazer, que tipo de música escutar, etc.? Tenho certeza que você não nasceu sabendo de tudo isso!
Levanto a hipótese de que esteja respondendo mais ou menos assim: eu fui descobrindo aos poucos, à medida que fui crescendo, experimentando, tendo curiosidade, conhecendo e interagindo com novas pessoas, enfim me permitindo!
E se formos mais adiante, também poderá até perceber, que muitos dos seus conceitos, características, qualidades, defeitos, jeito de andar, falar, se vestir, o que comer, o que gosta de fazer, o ritmo musical, etc. também foram mudando ao longo do seu desenvolvimento fisiológico e psicológico! Inclusive o que você considerava ser uma verdade absoluta aos dez anos de idade, certamente deixou de ser verdade agora na idade em que você se encontra. Assim, como também, algumas verdades permanecem inalteradas.
Pois bem, então agora voltamos para um dos questionamentos iniciais: por que o negativismo e o pessimismo precisam ser considerados uma verdade absoluta na sua vida? Se você evolui fisiologicamente, porque também não pode evoluir psicologicamente e emocionalmente? Será que você tem medo que as coisas dêem certo na sua vida?
Isso mesmo, não se faça de desentendido ou desentendida. Mas te convido a acolher tamanha inquietação ou angústia! Olhe para ela, com um olhar de aceitação, com ternura, livre de preconceitos ou qualquer tipo de racionalização. Também não tente se justificar, porque agora a conversa é só entre você e seu EU interior. E nessa conversa, não há espaço para o Ego e nem muito menos para o superego da moralidade.
Isso mesmo, aceite e acolha com a simplicidade de uma criança que está diante daquele adulto, que também carrega em seu interior traumas e conflitos de experiências que ainda hoje, clamam por uma ressignificação e libertação. E agora, perceba que nada foi sua culpa, que você era apenas uma criança descobrindo e tentando aprender a ser-no-mundo e estar-no-mundo de forma fluída. E como criança, ou seja, com as ferramentas psicológicas que tinha na época, você deu o seu melhor e fez tudo que lhe era possível! Perdoe-se!
Escute bem: agora você não precisa mais ficar neste lugar da culpa, do medo, da insegurança e do pessimismo. Tens a opção de finalmente se libertar desta prisão!
Simplesmente, porque nenhuma verdade é eterna, você não é mais uma criança, e a vida lhe provou que você pôde seguir adiante. Pare um pouco, olhe para você, se olhe no espelho, veja como você cresceu, o quanto amadureceu com seus erros e acertos, o quanto mudou ao longo das suas vivências. E principalmente, o quanto cada encontro e desencontro fizeram de você a pessoa que é hoje! Essa é a prova viva de que mesmo sem você perceber, conseguiu contrariar uma certeza que estava carimbada e autenticada: o pensamento negativo de que nada ia dar certo, e que sua vida não saiu do lugar.
E eu voz digo ainda mais, você saiu sim deste lugar sentenciado. Você deixou de rastejar e engatinhar, e agora anda com as próprias pernas e não mais sendo carregado nos braços de um adulto. O adulto que agora direciona e carrega-te no curso da vida, és tu mesmo!  
Estais convencido agora, de que sua vida tem movimento e fluidez?  E que talvez seja você que não quer ver? Que não quer crescer? Que se priva de novas e maravilhosas experiências? Que tem medo de ser feliz?
O que te impede de ver o lado bom da vida? De crer nas possibilidades de autorealização? E eu te afirmo, é você mesmo e sua acomodação mental! É O SEU MEDO DE SER FELIZ E REALIZADO NESTA VIDA! Neste exato momento, aqui-e-agora! E não amanhã, a semana que vem, o mês que vem, o ano que vem, enfim, segundos antes de morrer.
De fato a vida não lhe dará garantia de absolutamente nada. Mas concorda, que se você não se arriscar, não abrir mão desta falsa idéia de controle, nunca viverá ou terá experiência em nada?
Por fim, para concluir, vos deixo mais dois questionamentos: qual a diferença entre viver e vivenciar? Você vive ou vivencia? Agora é com você!



Fonte da imagem: https://www.google.com.br/


segunda-feira, 27 de abril de 2015

REFLEXÕES SOBRE O SOFRIMENTO ÉTICO POLÍTICO E ANTROPOLÓGICO NA EXPERIÊNCIA DO ADOECIMENTO


                                                                                             Por: Jucimara Gonçalves Bernardo




                Intervir na clínica do sofrimento ético político e antropológico nos moldes da teoria do self, é aprender a disponibilizar-se para o encontro, é prover condições para que o sujeito elabore e ressignifique sua experiência de perda (função orgânica e/ou identidade social perdida).
É possibilitar que este, apreenda que muito mais, que um membro limitado e/ou amputado, um ex-cargo profissional em determinada repartição pública, ele é um homem holístico. Ou seja, dotado de uma vida que perpassa pelas dimensões: física, social, emocional, profissional e espiritual, e por isso, um ser em constante processo de evolução e transformação e não limitado a doença.
No que diz respeito ao profissional da saúde mental, seu papel é o de oferecer ao paciente suporte e inclusão no meio social, principalmente quando todos os demais semelhantes não dispõem de habilidade para suportar e acolher o sofrimento e/ou o medo da finitude.
Assim, o psicólogo ao intervir no campo da saúde mental, precisa atuar como um agente de integração da vida do paciente. Sendo um corpo auxiliar que o ajude a identificar-se de forma concreta com uma representação social, que não seja a redundância de uma função orgânica limitada e/ou pedida. E que a partir, desta nova ressignificação de identidade social, este possa perceber-se reconhecido nas suas interações sociais e possuidor de um valor compartilhado (M. MULLER-GRANZOTTO & R. MULLER-GRANZOTTO, 2012b).
Neste sentido, o modelo teórico e prático de intervenção da clínica do sofrimento ético político e antropológico postulado por Muller-Granzotto; Muller-Granzotto (2012), oferece ao clínico uma possibilidade holística de cuidado em saúde mental. Pois transpõe a dicotomia da medicina curativa (que trata apenas a doença, restringindo-se exclusivamente ao orgânico) e busca pactuar uma rede de cuidado significativa com os agentes provedores da saúde mental. A saber: formada por psicólogo, paciente, família e contexto social.
Ademais, para que este modelo de intervenção seja possível, cabe ao clínico primeiramente compreender em sua relação com o paciente adoecido, o modo como este é convocado a participar do campo e como ele participa da construção dos ajustamentos ético político e antropológico. Visto que, é somente a partir deste diagnóstico de campo, que o clínico terá condições de traçar um plano de intervenção mais assertivo para as demandas direcionadas ao paciente (M. MULLER-GRANZOTTO & R. MULLER-GRANZOTTO, 2012b).
Intervenções estas, que vão desde a ascensão da função de ato, a criação de espaços que prezem pelo exercício da cidadania, o acolhimento, até o incentivo de ajustamentos criadores, que o leve a fazer pedidos e alcançar uma autonomia possível, frente às necessidades e problemas enfrentados com o adoecimento somático (M. MULLER-GRANZOTTO & R. MULLER-GRANZOTTO, 2012b).


REFERÊNCIAS

GRANZOTTO, M. J. M.; GRANZOTTO, R. L. A clínica gestáltica da aflição e os ajustamentos ético-políticos. Rev. de Terapia Gestalt de la Asociación Española de Terapia Gestalt. Vitoria: Ediciones la Llave D.H., n. 30 (Clínica Gestáltica), 2010.

______. Fenomenologia e Gestalt Terapia. São Paulo: Editora Summus, 2007.

______. Clínicas Gestálticas: Sentido Ético, Político e Antropológico da Teoria do Self. São Paulo: Editora Summus, 2012a .

______. Psicose e Sofrimento. São Paulo: Editora Summus, 2012b .

quarta-feira, 8 de abril de 2015


UM OLHAR GESTÁLTICO ACERCA DA AUTO-REGULAÇÃO FAMILIAR



Por: Jucimara Gonçalves Bernardo




RESUMO

O presente artigo tem como objetivo, apresentar a relevância do conceito de auto-regulação organísmica de Kurt Goldstein, e sua relação dialógica com o funcionamento familiar e a depressão infantil, a partir de uma leitura gestáltica. Recorremos para tanto, a uma revisão bibliográfica dos seguintes conceitos: auto-regulação organísmica, ajustamento criativo, dinâmica familiar e depressão infantil. À guisa de conclusão, constatou-se que é através do contato fluido e espontâneo na relação familiar, que criança aprende a se auto-regular organísmicamente, ensaia os primeiros passos para a apropriação da sensação de si - mesmo, e posteriormente manifesta ajustamentos criativos saudáveis ou não-saudáveis, que lhe permitem expressar suas emoções e sentimentos.

Palavras-chave: Auto-regulação organísmica. Depressão Infantil. Família. Gestalt-Terapia.

Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/new1_artigo.asp?entrID=1751#.VT5C4tJViko