REFLEXÕES SOBRE O SOFRIMENTO ÉTICO POLÍTICO E ANTROPOLÓGICO NA EXPERIÊNCIA
DO ADOECIMENTO
Por: Jucimara Gonçalves Bernardo
Intervir na clínica do sofrimento ético
político e antropológico nos moldes da teoria do self, é aprender a
disponibilizar-se para o encontro, é prover condições para que o sujeito elabore
e ressignifique sua experiência de perda (função orgânica e/ou identidade
social perdida).
É possibilitar que este, apreenda que
muito mais, que um membro limitado e/ou amputado, um ex-cargo profissional em
determinada repartição pública, ele é um homem holístico. Ou seja, dotado de
uma vida que perpassa pelas dimensões: física, social, emocional, profissional
e espiritual, e por isso, um ser em constante processo de evolução e
transformação e não limitado a doença.
No que diz respeito ao profissional da
saúde mental, seu papel é o de oferecer ao paciente suporte e inclusão no meio
social, principalmente quando todos os demais semelhantes não dispõem de habilidade
para suportar e acolher o sofrimento e/ou o medo da finitude.
Assim,
o
psicólogo ao intervir no campo da saúde mental, precisa atuar como um agente de
integração da vida do paciente. Sendo um corpo auxiliar que o ajude a
identificar-se de forma concreta com uma representação social, que não seja a
redundância de uma função orgânica limitada e/ou pedida. E que a partir, desta
nova ressignificação de identidade social, este possa perceber-se reconhecido
nas suas interações sociais e possuidor de um valor compartilhado (M.
MULLER-GRANZOTTO & R. MULLER-GRANZOTTO, 2012b).
Neste sentido, o modelo teórico e prático
de intervenção da clínica do sofrimento ético político e antropológico
postulado por Muller-Granzotto; Muller-Granzotto (2012), oferece ao clínico uma
possibilidade holística de cuidado em saúde mental. Pois transpõe a dicotomia
da medicina curativa (que trata apenas a doença, restringindo-se exclusivamente
ao orgânico) e busca pactuar uma rede de cuidado significativa com os agentes
provedores da saúde mental. A saber: formada por psicólogo, paciente, família e
contexto social.
Ademais, para que este modelo de
intervenção seja possível, cabe ao clínico primeiramente compreender em sua
relação com o paciente adoecido, o modo
como este é convocado a participar do campo e como ele participa da construção
dos ajustamentos ético político e antropológico. Visto que, é somente a partir
deste diagnóstico de campo, que o clínico terá condições de traçar um plano de
intervenção mais assertivo para as demandas direcionadas ao paciente (M.
MULLER-GRANZOTTO & R. MULLER-GRANZOTTO, 2012b).
Intervenções estas, que vão desde a
ascensão da função de ato, a criação de espaços que prezem pelo exercício da
cidadania, o acolhimento, até o incentivo de ajustamentos criadores, que o leve
a fazer pedidos e alcançar uma autonomia possível, frente às necessidades e
problemas enfrentados com o adoecimento somático (M. MULLER-GRANZOTTO & R. MULLER-GRANZOTTO, 2012b).
REFERÊNCIAS
GRANZOTTO,
M. J. M.; GRANZOTTO, R. L. A clínica gestáltica da aflição e os ajustamentos
ético-políticos. Rev. de Terapia Gestalt
de la Asociación Española de Terapia Gestalt. Vitoria: Ediciones la Llave
D.H., n. 30 (Clínica Gestáltica), 2010.
______.
Fenomenologia e Gestalt Terapia. São
Paulo: Editora Summus, 2007.
______.
Clínicas Gestálticas: Sentido Ético,
Político e Antropológico da Teoria do Self. São Paulo: Editora Summus, 2012a .
______.
Psicose e Sofrimento. São Paulo:
Editora Summus, 2012b .