quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


Análise do filme: Desejos – Alguém foi seduzido

Jucimara Gonçalves Bernardo

Atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica, com objetivos bem definidos para encontrar respostas a questões propostas com vistas à solução de problemas.
Os testes psicométricos baseiam-se na teoria da medida, e fazem uso de números para descrever os fenômenos psicológicos enquanto os testes impressionistas são fundamentados na descrição lingüística, que caracterizam o sujeito.
Os testes psicológicos são utilizados para: classificação (psicotécnico), autoconhecimento, intervenção psicoterápica e psicodiagnóstica, avaliação de programa e pesquisa científica.
A avaliação profissional tem caráter científico e visa avaliar o comportamento das pessoas e com base nessa avaliação são tomadas decisões que afetam profundamente a vida dessas pessoas.
O processo de avaliação consiste em identificar as necessidades, integrar as descrições, escores, história do indivíduo e classificá-la, inferir hipóteses e intervenção.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar o filme: Desejos – Alguém foi seduzido, a luz de alguns conceitos estudados na disciplina de Exames Psicológico I.
O filme relata a história de Issac Barr (Richard Gere) um famoso psicanalista que deixa a ética de lado e se envolve com Heather (Kim Basinger), irmã de sua paciente. Para piorar, Heather ainda é casada com um perigoso gangster, que ela odeia.
De acordo com o código de ética profissional do psicólogo:

ü  É seu dever trabalhar visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e da coletividade, contribuir para a eliminação de quaisquer formas de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
ü  Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente.
ü  Guardar sigilo por parte do profissional psicólogo, salvo em caso de pedidos da justiça. Sendo então o mesmo obrigado a dar somente as informações pedidas e nada mais.

Assim aconteceu no filme, o analista foi convocado para dar um depoimento sobre um paciente que examinou duas horas por dia, durante cinco dias. Ele relatou que seu paciente Pepe Carrero não era perigoso, não tinha esquizofrenia e que foi surrado pelo padrasto durante nove anos rotineiramente. Acrescentou ainda que, ele teve apenas um colapso psicológico, quando a violência estava ameaçando a sua vida, o levando a um quadro temporariamente insano.
Dr. Barr (analista) afirma que o réu precisava de um programa estruturado de psicoterapia intensiva arcada pelo Estado, e se colocou a disposição de o trata-lo gratuitamente, sob a seguinte justificativa: “sua cura nos dá mais segurança. Não é por isso que estamos aqui!”
No que diz respeito a ética na avaliação psicológica, existem seis padrões básicos norteadores que devem ser seguidos pelo profissional de psicologia:
1. Competência: exercer sua função da melhor forma possível, estar habilitado para tal e reconhecer seus limites. Dessa forma é ilusão achar que todo psicólogo deve dar de conta de tudo. Pelo contrário é preciso se especializar e fazer muito bem o que é de sua especialidade.
2. Integridade: respeitar, ser honesto e justo com o paciente. Quando o psicólogo por questões pessoais não consegue dar conta da demanda, o mais correto é encaminhar para outro profissional.
3. Princípios de responsabilidade científica e profissional: utilizar técnicas de acordo com a demanda do paciente.
4. Respeito à dignidade das pessoas: guardar sigilo das informações recebidas e etc.
5. Preocupação com o bem-estar alheio: consciência da relação de poder e evitar atitudes que envolvam engano ou exploração.
6. Responsabilidade social: participar na formação de políticas e leis que possam beneficiar a sociedade, sem envolver necessariamente, vantagens profissionais.
Princípios estes, que não foram obedecidos pelo analista, pois mesmo após se interessar pela irmã da paciente, continuou o processo terapêutico com Diana ao invés de reconhecer seus limites e ser honesto com a paciente, demonstrando assim não ter competência e integridade.
Existirá momentos em que o profissional se identificará com seu paciente (projeção) e momentaneamente poderá não perceber que está fazendo isso, correndo o risco então de querer mudar o percurso construído pelo paciente, achando que o problema está nele, quando na verdade o problema está no psicólogo que está escutando.
O psicólogo é um ser humano como qualquer outra pessoa e possui limitações, portanto, poderá haver momentos em que o profissional não consiga lidar com algumas situações. E nesse caso, o melhor a ser feito é encaminhar o cliente para outro profissional e trabalhar  suas questões na psicoterapia pessoal.
É preciso se aproximar e se distanciar do cliente, movimento este, que muitas vezes é doloroso porque nos encontramos na história do cliente. Porém, esse processo é indispensável para a compreensão do paciente.
Diante do exposto acima, desvela-se a importância da supervisão: processo no qual uma profissional supervisora pontua os pontos cegos existentes na relação do psicólogo e paciente, as quais o psicólogo deve levar para sua psicoterapia pessoal.
É importante salientar que é dever do psicólogo zelar pela sua posição de psicoterapeuta numa relação clínica, sendo então o detentor das regras e deixar claro para o seu paciente os limites dessa relação, no mesmo instante em que os acordos estiverem sendo estabelecidos entre ambos.
Critério este, que foi nitidamente violado nas cenas do filme, pois o analista após ter escutado sua paciente, pede para que sua irmã ligue para ele, dando a entender que seria para esclarecer a existência real de uma arma dada por Heather. Porém, levanta-se a hipótese de que inconscientemente a libido o impulsionara a arranjar uma forma para ver Heather (objeto de seu desejo).
O ato se concretizou, quando Heather apareceu na casa dele, e mesmo assim ele a atendeu com o propósito de questioná-la sobre a existência da arma, neste momento o analista perdeu totalmente o seu lugar de analista e se envolve com a irmã de Diana e assim com a vida da paciente.
Quanto ao plano da motivação, paciente e terapeuta assumem inconscientemente, papéis de acordo com seus desejos, sentimentos e fantasias. Aqui se destaca a transferência e a contratransferência.
Destarte, o autor do filme alerta-nos sobre o perigo da motivação, principalmente quando mostra a cena em que o Dr. Barr (analista) se envolve com a irmã da paciente, mesmo sabendo do erro.
     
Referências bibliográficas:
  
CUNHA, Jurema Alcides. Org. PSICODIAGNÓSTICO – V. ed.5ª. ED. Artmed. São Paulo.
PASQUALI, Luiz. TÉCNICA DE EXAME PSICOLÓGICO – TEP, Manual. Vol.1. Fundamentos das técnicas psicológicas.

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