quinta-feira, 10 de janeiro de 2013




A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO  AMBIENTE HOSPITALAR


O tratamento do câncer infantil demanda um tempo considerável de hospitalização, no qual a criança é submetida a procedimentos invasivos e dolorosos, como é o caso da quimioterapia e seus efeitos colaterais. 
Ao pensar em ações que possam minimizar tal sofrimento, Chiattone (2003) ressalta que o brincar é um rico instrumento preventivo, diagnóstico, prognóstico e terapêutico para as crianças na situação de adoecimento e iminência da morte. Pois é através do brincar que a criança consegue formular e assimilar sua  experiência, bem como facilita a internalização, amadurecimento e elaboração do processo de adoecimento.  
A criança acometida por câncer, sofre muito mais com a restrição do seu existir, do que mesmo com a própria doença. Porém, é graças ao seu desejo constante de des-cobrir (presente durante todo o seu desenvolvimento), que a restrição poderá passar a ocupar um espaço menor. Destarte, é quando seu foco de atenção estiver mais voltado para a des-coberta das coisas novas, que a limitação imposta pela doença e pelo tratamento passará momentaneamente a não mais impedi-la de continuar sua trajetória.
Neste sentido, o brincar pode ser considerado um mediador entre a criança e o psicólogo, que se utilizará de tal método para fazer com a criança possa explorar e descobrir novas maneiras de vir-a-ser na situação de doença. Bem como, fortalecer a auto-estima, o autoconceito e favorecer o seu equilíbrio psíquico da criança. Segundo Chiattone (2003, s/p):


O objetivo é ajudar a criança a tomar consciência de si mesma, de sua existência no mundo e de sua situação de doença e iminência de morte, reconstruindo seu senso de eu, fortalecendo suas funções de contato e renovando o contato com seus sentidos e sentimentos. Ao fazer isso, pode-se redirigir a criança para a percepção mais saudável das funções de contato que lhe restam e em direção a comportamentos mais satisfatórios.


Existem diversas técnicas específicas que podem ser utilizadas e incluídas nas atividades do ambiente hospitalar e que ajudam a criança a expressar seus sentimentos. Dentre elas: desenho livre, pintura livre a dedo, pintura de modelos prontos, desenho de polaridades, manuais sobre a doença e hospitalização, recortes e colagens, modelagem, desafios, histórias coletivas, completar sentenças, fantoches e teatros de fantoches, dramatização, árvore da vida etc (CHIATTONE, 2003).
Assim a tarefa do profissional de saúde mental no atendimento a criança terminal consiste em apontar caminhos, oferecer condições de forma direta, sem ser invasivo, sendo leve e delicado sem ser passivo, enfim aceitando a criança com respeito e consideração a sua forma de ser e existir.
Frente a isso, Lione (2001, s/p) ressalta que:


Para a criança em geral e, em especial, para crianças com câncer, é importante que o adulto que delas cuida antecipe situações ou significados para além do imediato, reconhecendo suas necessidades e, ao mesmo tempo, dando-lhes apoio e encorajando-as a enfrentar o que está por vir. Na sua proximidade, o adulto pode antecipar o que vai acontecer no futuro, oferecendo para a criança algum tipo de “confiança” de que ela poderá se lançar ao desconhecido.


As necessidades e as solicitações da criança podem ser facilmente percebidas pelo olhar cuidadoso do adulto que está próximo da criança no seu dia-a-dia.
A confiança surge através do relacionamento cuidadoso, humanizado e respeitoso. Se para a criança a presença do adulto que é marcada pelo apoio e confiança é importante, para o adulto essa relação também é muito valiosa. Pois à medida que o adulto cuida da criança, ele está cuidando também da sua aflição e preocupação em relação à criança, ou seja, ele está cuidando também de sim mesmo.
Existe na verdade uma relação de ser-com-o-outro, onde o cuidado que é oferecido pelo adulto é recompensado pela confiança que a criança deposita no mesmo e que o presenteia com mais força para continuar a superar as adversidades. 


REFERÊNCIAS

LIONE, Fernanda Rizzo di. A criança existindo com câncer. Revista da Associação Brasileira de Daseinsanalyse. Número 10, 2001, São Paulo.

CHIATTONE, H.B.C. A criança e a morte. A psicologia entrou no hospital. 2ªed. São Paulo: Pioneira, 1999. 



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