quinta-feira, 25 de julho de 2013

UM GOLPE DO DESTINO: TEXTO SENTIDO




Jucimara Gonçalves Bernardo


INTRODUÇÃO


Iniciemos então, este texto refletindo primeiramente e não por acaso, acerca dos seguintes questionamentos: o que é a vida? O que é viver? O que é existir? Viver difere de existir ou ambas são a mesma coisa? Qual o real sentido de nossa existência? Quando e como morreremos? O que é a morte? É difícil responder não é? Existem inúmeras explicações a serem dadas, porém é necessário esclarecer que este não será foco deste trabalho.
Todos esses questionamentos têm por objetivo neste primeiro momento, deixar claro que é por esta difícil e delicada condição de estar no mundo (vida, bem mais precioso que possa existir), que o consulente busca o profissional da saúde nas clínicas e hospitais, clamando e pedindo que o ajude a preservá-la, salvar ou simplesmente zelar por sua vida.
E assim vos pergunto novamente: como este profissional tem cuidado e protegido esta vida? Estão cuidado da doença ou do ser humano que sofre? Estão de fato percebendo o quão frágil se encontra este consulente que beira a eminência de sua morte? Estão desenvolvendo uma relação consulente/profissional saudável e um tratamento humanizado?
É em torno desta temática e a partir do filme: Um golpe do destino, que procurarei discutir a respeito de algumas problemáticas ocorridas no âmbito dos serviços de saúde.

O TRATAMENTO HUMANIZADO

Ao ser internado o consulente passa por um processo que podemos chamar de despersonalização, ou seja, passa a receber tratamentos impessoais, como por exemplo, deixa de ser chamado pelo nome e passa a ser chamado por um número (“o paciente nº. 37”), sua vaidade, seus gostos, desejos, necessidades emocionais e psíquicas passam a ser grosseiramente reprimidas.
Na conduta de alguns médicos, assim como mostra o filme: Um golpe do destino é nítido perceber que: a princípio a visão de homem que se tem é inteiramente dicotômica, o foco principal é a doença e não o ser humano que sofre, alguns se sentem onipotentes e tratam seus pacientes como máquinas que precisam de um concerto mecânico. Os aspectos psíquicos e emocionais, assim como a estrutura de personalidade e a história de vida do paciente são totalmente desprezadas diante da oferta terapêutica aplicada. Enfim são cenas que na realidade desvelam a desumana forma de atendimento e procedimentos invasivos desempenhados por estes profissionais. Mas felizmente, reconheço que não são todos os profissionais da saúde que são assim, existe profissionais qualificados e humanizados em muitas instituições de saúde!
De acordo com Carvalho, Santana & Santana (2009), a temática humanização e qualidade dos serviços começou a ser discutida no ano de 2000, a partir da XI Conferência Nacional de Saúde que teve como tema: Efetivando o SUS: Acesso, Qualidade e Humanização na Atenção à saúde com Controle Social.
Segundo o Ministério da Saúde, humanizar não significa apenas reorganizar os espaços sanitários, visa, sobretudo, reorganizar os processos de trabalho, formar e qualificar trabalhadores, garantir os direitos e a cidadania dos usuários por meio do controle e da participação popular.  
Deslandes (2004) apud Carvalho, Santana & Santana (2009), desvela quatro eixos referentes à Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar:

1) Humanização como oposição à violência, podendo esta ser física (maus-tratos) ou psicológica (a não compreensão das demandas e expectativas do paciente);
2) Humanização como capacidade de oferecer um atendimento de qualidade (exemplificada pela tecnologia leve, a qual diz respeito aos modos relacionais de agir na produção dos atos de saúde, ou seja, a produção de vínculos, acolhimentos e autonomização ao usuário);
3) Humanização como melhoria das condições de trabalho do cuidador;
4) Humanização como ampliação do processo comunicacional, ou seja, a presença de mecanismos que permitam a livre expressão dos usuários: a ouvidoria.

Desta forma, percebe-se que, em se tratando do ambiente hospitalar, humanizar significa compreender também os medos, angústias e incertezas do paciente, dando-lhes apoio e atenção permanente.
Outra importante missão do profissional de saúde, é estabelecer e assumir uma postura ética de respeito ao individuo, tratá-lo com dignidade, sob a hipótese de que será somente assim, que o consulente passará a apropriar-se do seu adoecer, a responsabilizar-se por suas escolhas e por buscar caminhos que lhes traga o restabelecimento e equilíbrio organísmico.
Perls (2002), ao referir-se as inúmeras formas e possibilidades de apropriação da vida assumidas pelo homem, convoca-nos a refletir descrevendo o seguinte trecho:

É essencial que o homem aprenda a “sensação de si mesmo”, restaurando todos os impulsos e as necessidades, todos os prazeres e as dores, todas as emoções e sensações que fazem a vida valer a pena ser vivida, que se tornaram fundo ou foram reprimidas em nome do seu ideal dourado. Deve aprender a fazer outros contatos na vida além de suas relações comerciais (p.152).

É pensando em mediar este contato do paciente consigo mesmo e com os profissionais da saúde, que o psicólogo hospitalar (profissional capacitado para analisar as relações inter-pessoais), deve esforçar-se para: focar seu trabalho no paciente, resgatar sua essência de vida interrompida pela doença e a internação, acolher a demanda do paciente e familiar, considerar o ser humano em sua totalidade e integralidade, observar e ouvir com paciência e empatia a linguagem verbal e não-verbal dos pacientes, observar todos os aspectos relacionados ao adoecer, aumentar a integração da equipe com o usuário, favorecer apoio à equipe de saúde e familiares, buscar uma visão ampla do que é e como está o paciente frente ao processo de doença e por fim resgatar a visão de individuo como um todo.

CONCLUSÃO

Concluímos então, que na atuação do psicólogo hospitalar não basta apenas ter um vasto conhecimento cientifico é preciso saber como utilizá-lo, lembrando ainda que, se não estivermos preparados para aprender com o paciente, nosso saber de nada adiantará. Iludisse o acadêmico, achando que a simples formação lhe garantirá o sucesso do seu exercício (afirma Angerami Camon), e o filme: Um golpe do destino, deixa bem claro a insuficiência do modelo biomédico. Ressalta-se aqui, a importância de se consolidar práticas empáticas e humanizadas no acolhimento ao paciente enfermo, independente de qual seja o projeto político de saúde em que é assistido.


REFERÊNCIAS:


PERLS, Frederick S. Egos, fome e agressão: uma revisão da teoria e do método de Freud. São Paulo. Ed. Summus, 2002.

CARVALHO, Denis Barros de, SANTANA, Janaína Macêdo & SANTANA, Vera Macêdo de. Humanização e Controle Social: O Psicólogo como Ouvidor Hospitalar. Revista PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2009, 29 (1), 172-183.

MINISTÉRIO DA SAÚDE – SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. ABC do SUS: Doutrinas e Princípios, Brasília/ DF, 1990.

CAMOM, Valdemar Augusto Angerami (Org). E a psicologia entrou no hospital. 1ª ed. São Paulo. ED. Pioneira Thomson Learning, 2003.




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